MATRIMÓNIO (I)


Capítulo XXXI

Mostram-se os fins porque Deus instituiu o Sacramento do Matrimónio, e o como os mortais nos casamentos faltam a eles

1. Dos sete Sacramentos da Igreja, fontes da graça, e vazos da saúde, a nenhum tratamos (diz o Venerável Palafox) os Cristãos com menos decência, e veneração, que ao do matrimónio, e nenhum profanamos igualmente.

2. O baptismo porta da vida, e da Graça sempre se recebe com pureza; porque nem a singela alma do menino, ainda que manchada pelo pecado original, nem a vontade, e afecto dos Pais embaraça ao  Espírito Divino, que obra com aquele puro elemento misterioso despojo da má pele, que de nossos primeiros Pais herdamos, deixando-a branca, cristalina, formosa, e Santa. O Sacramento da confirmação, segundo falo da alma Cristã, não trás matéria alguma de distração; porque ordinariamente se recebe de idade tão terna, que a inocência convém bem com a Graça. O da penitência, ela mesma se diz: Penitência, dor dos pecados cometidos, emenda para o diante, a meditação precedente, a confissão verbal, faz o juízo reverente, e devoto; não há circunstância, que não obrigue a sentimento, nem memória, que não desperte a dor. A Eucaristia Santíssima, que é o Senhor dos Sacramentos Sacramentado, ainda que nunca com bastante decência recebido; porém sempre é de todo o coração dos Fiéis adorado; não há matéria alguma que não seja de reverência, de confusão, e de assombro em tão profundo mistério, em um pego de misericórdias, em um abismo da Divindade, terminado em tão breves, e naturais acidentes.

3. Ao Sacramento da Ordem (mistério altíssimo da maior dignidade) pelas gradas dos graus da Igreja se sabe com toda a decência, e veneração; e desde a primeira tonsura até o caracter da maior dignidade se vay despojando o homem exterior de si mesmo e o homem interior crescendo em graças, e em bênçãos de Deus.

4. A Extrema-Unção Santíssima, quem a poderá admitir com distraimentos? Quem sem resignação humildíssima, à vista da morte, no último ponto da vida, armando-se para a maior batalha, e signando-se para o mais tremendo juízo?

5. Só o Sacramento do Matrimónio, gloriosíssima porta, quanto à propagação, da Igreja militante, parece que profanam os Fiéis com festas, e muitas loucuras, nada decentes a Cristãos, e pouco permitidos a Gentios. Aqui a desonestidade costuma presidir com a sua desenvoltura, triunfar a soberba com a sua ostentação, alimentar-se a gula com os seus banquetes, adorada, e servida com pompas, e excessos da vaidade: recebido ordinariamente este venerável Sacramento no mais fervoroso da idade, quando o sangue está desassossegado ao humano coração, e dando incentivos ao apetite, à opulência, à altivez, o vício, os jogos, os de divertimentos, os festins, os gastos excessivos, os empenhos da honra, e da vida, e da fazenda; sempre, pela maior parte, precedendo, ou seguindo ao matrimónio: com o que parece que ocasionamos antes o castigo com os excessos, que granjeamos a graça com o Sacramento. E porque tratando desta matéria, parece que só para nela se discorrer me veio por acaso que só para nela se discorrer me veio por acaso às mãos o livro primeiro das revelações de S. Brígida, nele achei; tivera a revelação, que direi, que é admirável para seguir o meu intento.

6. Não entendais que depois da Escritura Sagrada, dos Concílios, e de tudo o que é de Fé, há outra coisa mais aprovada pela Igreja, que as revelações com que ilustrou a alma desta Santa mulher o seu exposto JESUS Cristo; porque se examinaram com grandíssimo cuidado, e reconheceram pelos Pontífices Gregório XI e Urbano VI havendo-as visto primeiro por ordens suas Cardeais doutíssimos, e eminentes Teólogos, que com razões invencíveis as defendeu, e ilustrou; e se aprouveram também pelo Concílio Brasilense Pois a esta santa Alma disse seu Esposo Jesus Cristo, falando dos matrimónios da Lei da Graça, e as palavras que traduzidas em vulgar idioma, dizem assim.

(a continuar)

1 comentário:

  1. No ponto 5, "profanamos os Fiéis com festas,"? Não deveria ser, "profanam os Fiéis com festas,"?
    Saudações

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