HISTÓRIA DOS MILAGRES DO ROSÁRIO (I)

HISTÓRIA DOS MILAGRES DO ROSÁRIO
DA VIRGEM NOSSA SENHORA

Pe. João Rebelo
(jesuíta português)
 
Lisboa
1617

Aprovação dos Superiores

Eu o Padre João Correia, Provincial da Companhia de Jesus, da Província de Portugal, por particular comissão que para isso tenho do mui reverendo padre Cláudio Aquaviva nosso Propósito Geral, dou licença para que se imprima um tratado, intitulado História dos Milagres do Rosário, e devoções de Nossa Senhora, que compôs o Padre João Rebelo da mesma Companhia, o qual foi examinado, e aprovado por algumas pessoas doutas e graves de nossa companhia, e por verdade o assinei do meu nome. Em Coimbra a 2 de Agosto de 1601
João Correia

[também aprovado pelo Santo Ofício] 
 
 
 
PRÓLOGO AO LEITOR
Do proveito que nasce de escrever milagres de nossa Senhora, e dos Santos.
 
Entre as antiquíssimas joias (devoto leitor que a Santíssima Trindade deixou à Igreja sua mui amada esposa, foi a graça, e virtude de fazer milagres: pela qual como com particular divisa, se conhece ser ela só a verdadeira esposa, e igreja, fundada sobre a Paixão de Jesus Cristo nosso Salvador. Porque como os milagres sejam obras que excedem toda a virtude da natureza criada, e por essa razão se chamam milagres, porque espantam a todas as criaturas, Deus os toma para testemunhas de verdade: e por esta causa na divina escritura se chamam Testemunhas de Deus (Testemonia Dei), e por ser tais foram necessários, para com eles confirmar a fé de Jesus Cristo, e da lei Evangélica como coisa tão sobrenatural a todo o entendimento. E por esta causa, quando o Salvador mandou aos sagrados Apóstolos que fossem pregar, como diz S. Mateus lhe deu poder de sarar leprosos, e curar enfermos, e ressuscitar mortos. E S. Marcos diz, que eles se partiram por diversas parte do mundo fazendo milagres em confirmação da fé que pregavam.
 
Este pois é um dos grandes proveito, que nascem na Igreja Católica de escrever milagres, porque com eles se prova a verdade da fé que tempos, e da Igreja em que vivemos, e a falsidade de todas as outras leis se confunde, e reprova: porque somente na Igreja Católica há verdadeiros milagres, com os quais ainda que a fé esteja muito arreigada, cresce no coração dos fiéis, assim como as árvores deitam suas raízes na terra mais funda, quando são geradas.
 
Servem também de instrumento público, dado com autoridade divina, da santidade justiça, e amor que os santos lhe têm, e do muito que eles os estima quando os faz por sua intercessão, e invocação, porque fazê-los, é dar fé, testemunho da santidade de seus servos, e da honra com que os trata. E assim como Deus tenha feito mais e maiores milagres, por intercessão da santíssima Virgem, que por nenhum outro santo, nem anjo, quando vemos os tantos milagres entendemos que a santidade de sua mãe, e amor que lhe tem, é maior que de todos os santos, e Anjos.
 
Quando vemos tantos milagres, cresce a devoção de os honrar, e venerar, e acudir a eles em todas as nossas necessidades: daqui nasce muitas vezes que se levantam cruzes, fazem capelas, e edificam igrejas, em que Deus é venerado, e os santos honrados, e todos os fiéis se exercitam em obras de religião, de modo que um milagre é fonte donde mana água com que se rega toda uma vila, cidade, ou reino, porque fazendo-se nela, logo todos se ocupam em adoração de Deus, e veneração de seus santos.
 
Servem também de doutrina, e de exemplo, a todos os que veem, ou leem, porque se o milagre se faz para castigo de algum pecador, todos os que o veem, ouvem, ou leem, se metem por dento, e emendam sua vida, e se o milagre se faz em confirmação de alguma virtude, todos se incitam como com espora, a emita-la, de que neste tratado acharemos muitos exemplos, de modo que aos milagres podemos chamar pregadores caídos do Céu, que pregam que nos apartemos dos pecados, e sigamos a virtude.
 
Pois se tratamos das visões, acharemos que como são milagres têm também os mesmo proveitos que os milagres, pois com uma Deus repreende aos pecadores, e os castiga, com outras os ensina, e consola: com umas, lhe declara o futuro, com outras, como se hão de haver no presente; com umas lhe mostra os tormentos do inferno, com outros infinitos tesouros de deleites de sua glória, como aconteceu à madre Teresa de Jesus, que tendo uma visão, donde Deus se lhe comunicava com tanta alegria, e contentamento, que ela não o podia declarar, vendo a Cristo por esposo de toda uma hora, lhe disse o Senhor: "Olha filha o que perdem os que são contra mim; não deixes de o dizer".
 
(continuação, II parte)

5 comentários:

  1. É de colocarmos todos o mesmo título. A numeração em título deve seguir de uns para os outros, e nada ter que ver com o número do capítulo. Claro... no final de cada artigo colocamos as ligações de uns para os outros, e antes do artigo tb., como se tem feito sempre no modelo que costumamos seguir. Ok?

    No Santo Zelo já se soube da notícia, deve estar para sair o artigo de resposta. E neste momento vc. deve estar em aulas.

    Até já.

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  2. No Veritatis creio que só lá para a hora de jantar se saberá algo.

    Pela ocupação, o DESCOBRINDO nem se vai dar conta de nada durante uns dias, e nem teria tempo de alinhar... Vou enviar-lhe uma mensagem para ver o que pode.

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  3. Caro Ascendens,

    Boa estratégia. Façamos dessa forma.

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  4. O SANTO ZELO deu resposta agora

    http://santozelo.blogspot.pt/2017/03/sensibilizacao-para-o-terco-proposta.html

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  5. Há um outro factor técnico que é necessário ficar decidido. Os diálogos no livro estão expostos de forma um pouco confusa, porque não é redigida sob os moldes actuais e não faz uma distinção clara naquilo que é diálogo e não é. Como somos vários a transcrever a obra e a publicar, convinha criar uniformidade quanto à forma do texto, e alguém responsável pela revisão. Como o ASCENDENS é entre nós o mais experiente nas transcrições, importa-se de ser também o responsável pelas regras e revisor?

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