O PADRE-NOSSO - A MODIFICAÇÃO INTRODUZIDA (I)

O PADRE-NOSSO
Comentário à Modificação Introduzida
(Alfredo Pimenta - 1941)



PROTESTAÇÃO

Era, talvez, escusado dizê-lo.
Católico, sujeito quanto neste opúsculo escrevi, ao juiz infalível da Santa Madre Igreja, Católica, Apostólica, Romana, como filho humilde e obediente que sou.


Consequentemente, desde já declaro que condeno e rejeito sem reserva de qualquer espécie, e dou como não pensado e escrito, tudo o que neste opúsculo fôr, pela Autoridade competente, condenado e rejeitado, pedindo, antecipadamente, a Deus, perdão daquilo em que o possa ter ofendido.

Alfredo Pimenta.


O PADRE-NOSSO

§ I

A Lumen, revista de Cultura do Clero, em seu fascículo de Agosto de 1941, e a págs. 544, publicava uma comunicação de Sua Eminência o Cardial Patriarca de Lisboa, em que se apresentavam novas fórmulas de velhas orações, tornadas obrigatórias para todo o País por determinação do Episcopado.

O Padre-Nosso, ou Oração dominical, rezava-se assim:

"PADRE NOSSO QUE ESTAIS NO CÉU,
SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME;
VENHA A NÓS O VOSSO REINO;
SEJA FEITA A VOSSA VONTADE, ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU.
O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE;
PERDOAI-NOS AS NOSSAS DÍVIDAS; ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS AOS NOSSOS DEVEDORES;
E NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO,
MAS LIVRAI-NOS DO MAL.
AMEN". (Este Amen não fazia parte da Oração dominical: é um acrescento do fim da Idade Média)

Segundo a nova fórmula, em vez de "Padre-Nosso", dir-se-á "Pai-Nosso", e onde se dizia "Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores", dir-se-á: "Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido".

Com a primeira modificação, não me prenderei mais do que o tempo bastante para dizer que não vejo conveniência nela, porque se no espírito dos simples ou rudes podia estabelecer-se confusão, quanto ao significado da palavra Padre, vulgarmente sinónima de Sacerdote, o remédio era fácil: ensinar essa gente, esclarecê-la, como se faz em tantas e tantas causas.
[comentário Fidelissimus: ajudar a ajustar pelo alto, é católico; ajustar o alto pelo baixo, não deve]

A palavra padrinho ninguém a toma no sentido de padre pequeno, e toda a gente sabe que compadre nada tem que ver com os sacerdotes. E não me consta que haja catequistas que, ao ensinar o Padre-Nosso, se veja em dificuldades para fazer entender que o Padre nosso não é mais do que o Pai de nós todos - Deus.
[Comentário Fidelissimus: Até ao momento, nunca na Espanha os Sacerdotes deixaram de ser chamados "padre" por motivo de a cada pai também se lhes chamar "padre"]

Compadre, compadrio, padrinho, três derivadas de padre, não merecem dúvidas.

E se formos substituir o padre, onde ele traduz pai, como em Santo Padre, ou em nosso Padre S. Francisco, não corremos o risco de criar confusão?

O patér dos gregos tinha mais do que um sentido, e nem por isso se esbarrou em equívocos.
[Comentário Fidelissimus: em várias palavras da nossa língua, por séculos a forma antiga permanece intacta nas coisas sagradas (é este o costume): a palavra permanece conservada no sentido e na forma e não desce aos acidentes do vulgo, mantendo-se intacta e sem perigo de arrastamento ao profano; não raras vezes isto acaba por servir também como âncora, e auxílio da língua em geral, e não causa confusão, servido de referência para o melhor entendimento de outras palavras da mesma raiz ou família (é um enriquecimento ao falante, e um auxiliar ao cristão); deve o sagrado ser a referência para o mundo... sempre se soube disso e assim se fez]

Mas seja Pai-nosso - em vez de Padre-nosso.

(eis a continuação, na II parte)

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