(continuação da III parte)
§4
Um dia, em Lausanne, o Ministro dos Estrangeiros da Itália fascista, Grandi, a respeito do debate, então muito aceso, sobre a questão das dívidas da Guerra, disse segundo os jornais de todos os matizes: "E' questo il momento di applicare veramente, ciiascuno nei riguardi di tutti, l'incocazione evangelica - rimetti a noi i nostri debiti, come noi li rimettiamo ai nostri debitori."
O Osservatore Romano publicou logo um longo artigo intitulado La quinta petizione del "Paster Noster", começando a lembrança do estadista italiano; e começava assim: "L'On. Grandi, i cui discorsi hanno il merito di una indiscutibile franchezza rettilinea e di una cristaliana limpidezza, parlando ai guirnalisti a Losanna e dichiarandosi sempre più convinto dell'unica soluzione possibile, quella del colpo di spugna, ha riassunto efficacemente il suo pensiero con unrichiamo a semplici e grandi parole sacre, che is cristianesimo ha inserite nella coscienza civile, anche se non sono troppo spesso norma pratica di vita individuale e sociale."
Transcrevia as palavras de Grandi, e continuava, assim, o Osservatore Romano, órgão oficioso da Santa Sé: "Sebbene il diretto significato politico, che queste parole... assumono nella presente condizione internazionale, sia di una perfetta... transparenza, dati gli intimi sentimenti che distinguono l'On. Ministro degli Esteri italiano, è del tutto escluso il ricorso alle parole del Vangelo come ad una battuta di spirito , che anzi il preciso e paricolare significato politico, a cui sone tratte, include e pressuppone, a nostro parere e sino a rimanerne molto nobilitata la battuta, tutto il profundo valore morale e sociale delle espressioni, che formano una delle Pater Noster, la quinta, e appartengono al Discorso della Montagna."
Não se insurgiu o órgão oficioso do Vaticano com a aplicação do Pai-Nosso a um fim político e material, qual fosse o da liquidação das Dívidas de Guerra contraídas pelos Estados, antes folgou com que em tal emergência, se tivesse invocado a palavra do Senhor. Não se arreceou o Osservatore Romano da confusão estabelecida entre dívidas materiais, e pecados ou ofensas à Lei Divina, e não atalhou os passos à exegese atrevida que do Pai-Nosso fez Grandi, ministros dos Estrangeiros da Itália fascista - propondo, para se evitarem interpretações erróneas ou perigosas, a substituição das palavras debiti e debitori.
Conclusão
Salvo o absoluto respeito que é devido ao Episcopado português, e considerando:
1.º) Que se ignora a expressão textual da Oração dominical tal como a proferiu Jesus Cristo;
2.º) Que os textos da versão grega do Evangelho segundo S. Mateus, e do original grego do Evangelho segundo S. Lucas, não condizem nos termos empregados;
3.º) Que não só nos citados Evangelhos, mas nos textos profanos, se distinguem opheilema e harmatía, não sendo lícita qualquer transposição mútua nos dois termos;
4.º) Que a Vulgata também distingue debitum e peccatum;
5.º) Que em alemão, castelhano, inglês, italiano e português, sempre se adoptou a tradução literal de debitum e debitor, ou de opheilema e hamartía;
6.º) Que em francês não há unanimidade de versões, antes se hesita sobre as palavras que hão-de corresponder aos termos grego e latino;
7.º) Que em português, desde os princípios do século XIV, pelos menos, sempre se disse "perdoai as nossas dívidas, como nós perdoamos aos nossos devedores".
8.º) E, finalmente, que toda a alteração de orações produz confusão e embaraço nos espíritos simples e sensíveis, e com maior razão, a da oração dominical que todos sabem ter sido composta pelo Senhor;
parece-me que não se colherá vantagem apreciável na substituição de expressões do Pai-Nosso, e na afirmação tácita que se faz de que, durante pelo menos, seis séculos, se rezou indevidamente esta oração, tão indevidamente, que houve necessidade de a alterar.
Lisboa, 20 de Novembro de 1941
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