(continuação da I parte)
R – Sim, Sr., se a fizessem como devia ser, e à vontade d’El Rei Nosso Senhor, e sem lhe tirar o lugar de Presidente, e de Pai desta Família, que ele a mandasse executar, e todos obedecessem, eram bom; mas o povo, e toda a Nação, Rei, reproduzida de dois em dois anos, por eleições obereptícias, e cavilosas, excluindo a parte mais interessada da Nação, sem liberdade de escolher o cidadão honrado, sábio, virtuoso, quer fosse Religioso, quer Bispo, ou Pároco, e destes só os que não fossem seus Pastores, para errar a escolha em desconhecidos; digo, ser o Povo o que mandasse, e só vassalo o Rei a obedecer-lhe, nula toda a sua autoridade contra o Direito natural, e Divino, eis-aqui a sua beleza olhada pela rama, era linda; porém os seus frutos iam sendo bem amargos, ela era como a Árvore colocada no meio do Paraíso Terrenal, cujo fruto era vedado aos que gozavam outras felicidades, de que foram despojados como foi o nosso Rei, além de que se sofríamos alguns males, eram toleráveis, e filhos das circunstâncias passadas; a orfandade, em que então estávamos, sem Pai, sem Rei, sua distância nas Américas, onde não podia vêr de perto nossas desgraças, enxugar nossas saudosas lágrimas, atender aos nossos gemidos, pois um muro de bronze formado pela lisonja, ambição, intriga, tudo lhe ocultava, e as nossas queixas. Uma guerra Buonapartina e devastadora, fundos por ela esgotados; o comércio paralisado, e outras desgraças a que o génio do mal nos tinha condenado; aqui tem motivo dessa ilusão, e porque puderam enganar os Povos, homens na aparência honrados, e de quem a gente incauta não divisava o veneno, se introduziram na Farsa; e fingindo de amigos da Nação, depois se declararam peçonhentas víboras, para roerem as entranhas da Mãe Pátria, e acabar com a Religião, Trono, e Altar, eram estas as suas vistas, e dos Pedreiros Livres.
(eis a continuação, na III parte)
D. João VI, o Clemente. (Albertus Gregorius, 1825) |
P – Porém, como quer o Sr. Realista arguir-me de Pedreiro, e de mau português? Por me deixar iludir, bem como muitos, que ainda hoje teimam na bondade da Constituição, e que sem ela nunca poderemos ser felizes! Não entendo a roda dos enjeitados; confesso-lhe que esta contradicção de opiniões me faz andar a cabeça à roda.
R – Ora Sr. Liberal, por opinião, tudo isso nasce de não saber bem o nome aos bois, e nem a quantas anda, diga-me, já leu José Agostinho de Macedo? Mania de constituições? Se não a leu, eu o remeto a ele, para me poupar o trabalho de lhe responder, e convence-lo. E quando esteve Portugal sem Constituição! Quando foi o seu Governo Turco, Persa, ou Chinês! Se o código das nossas sábias Leis não estavam em seu vigor, de quem é a culpa! As nações estrangeiras as admiram, e os Franceses mesmo lhe sentiam toda a beleza, e perfeição, e maxime, nas de Polícia, se afrouxaram do seu vigos, é dos Ministros, que as executam, e talvez de muitos que estavam a dar em si, quando as queriam regenerar. Mas que bens tiramos dessa tal Constituição, e das grandes luzes desses iluminados? Tantos milhões gastaram em conclusões no Palácio das Necessidades, tanta cera com ruis defuntos, tanto papel nas Imprensas, só para vermos a indicação de F. ... projecto de Cicrano, apoiado por Beltrano – et reliqua, Facção dominante, sim, eles eram todos liberais consigo, e com os da fraternidade, e súcia; porém muito escassos para socorrer as necessidades dos opressos, e necessitados de Justiça, tudo à comissão...!!
P – Talvez, se lhe dessem mais tempo, concluiriam o Edifício da nossa prosperidade, mas foram despedidos antes da obra acabada, e na sua imperfeição; agora ralham deles, dos seus adeptos, e partidistas, não sei quem tem razão, nem Justiça, se os Realistas, se os Constitucionais, e tomára que me convencesse.
R – Nada mais fácil do que convencer quem erra a cada passo, em seus raciocínios; na verdade, se os tais amigo duram mais outro tanto tempo na empresa projectada, nem eu, nem a maior parte de Portugal já existia, o laço estava armado, e se se não declaram tanto contra Deus, contra a Religião, e Pessoas Reais, talvez conseguissem os seus danados projectos. Para que, Sr. Dr. formado na Seita dos Pedreiros, apostatou da verdadeira Religião em que foi criado? E a que lhe ensinou seu Pai (bom cristão, e honrado Português) eu o conheci (Deus o tenha à sua vista). Diga-me, e pretende ser melhor do que ele foi? Para que segue essa Seita reprovada, contra quem os Pontífices tem declarado Anátemas horrorosos! Muito embora V. m. Não acredite no poder dos Reis instituídos por Deus, para em seu Nome governarem os Povos confiados à sua suprema Autoridade, por que lhe faz inveja, que um homem da nossa mesma natureza, seja o primeiro chefe da Nação. Eu quisera ainda antes destas detalhadas razões que me dissesse primeiro se ainda quer ser cristão? E se acredita na Santa Escritura, e no Evangelho de Jesus Cristo? Porque sem isto, é bater em ferro frio; se ainda está pirrónico, e há de responder a todos os argumentos – Nego retunde – Então nada feito, nem o posso convencer.
P – Sr. Realista, eu há muito que leio vários livros dos sábios Filósofos, que também foram cristãos; como são Rousseau, Voltaire, Baillé, e outros muitos, e outros aonde encontra uma contradição com a Religião de meus Pais. É verdade, que eles nos seu tempo passavam por pessoas de bem, meu Pai homem sossegado, cuidava na sua lavoura, e de que era rico Proprietário, criou a seus filhos, e a mim com fazer sempre o Sinal da Cruz no levantar e deitar na cama, obriga-me a ter certas devoções, e repetir actos de Fé, Esperança, e Caridade; aos Domingos era forçoso ir à Missa do dia, ouvir a Estação do Padre Cura, assaz modesto Sacerdote. Este como muito amigo de meu Pai, por que era o freguês mais obediente, pagando-lhe à risca os direitos Paroquiais, além de vários mimos que lhe ofertava; por esta amizade vinha várias tardes e noites conversar com ele, e lhe ouvi dizer algumas vezes: - Cuidado Sr. Francisco neste rapaz, que não sei que diviso nele, faça-o sempre temente a Deus, obediente a seus Pais, à Igreja, e ao Nosso Rei, e que lhe beije a mão todos os dias, mais que uma vez, podendo ser; porque sem esta educação, e obediência não há Religião Santa, nem beneméritos vassalos, nem bons cidadãos na sociedade. – Reparava sim, na cautela que meu pai devia ter quando lhe intimava com calor. – Sr. Francisco se poder ser, por ora, nada de Coimbra que está um pouco relaxada, depois da morte do Marquês de Pombal, seu Reformador; mas se para serem Ministros é preciso lá irem, vá embora; mas Mentor vigia, sentinela avançada, muito cuidado nele, que se lá for lhe há de achar diferença, e logo no primeiro ano.
Tal reflexão me fez conceber um desejo forte, de saber como nesta Academia, no primeiro ano, saiam Doutores consumados, e se fazia esquecer as primeiras impressões da criação paternal. Bem feliz fui em chegar com brevidade a esta venturosa época. Foi então, que eu conheci no meu Jebo Padre Cura, um perfeito Bonzo, e corcunda chapado, querendo-me guiar como a meu Pai, pela estrada da escravidão, e do servilismo, para a qual Deus não criou o homem, antes lhe deu por maior perfeição uma liberdade de pensar, e de obrar, isto desde o primeiro criado, e metido no Paraíso, em toda a plenitude de seus Direitos e liberdade, apenas uma pequena reserva do pomo da Árvore vedada, talvez para lhe não ser danosa, e com ela contaminar a raça humana, sim também me ensinaram (ainda que às escondidas), que os Reis não deviam ser absolutos, mas regerem os Povos em docilidade, tudo debaixo da Lei. O tal Cura prégando a meu Pai tanta obediência aos superiores, tirava partido deste servilismo, e escravidão, abusando da bondade dos sinceros e tímidos Fregueses, lisonjeava o Trono e o Ministério, esperando por isto em recompensa em algum Bispado.
R – Bravo! Bravo! Sr. Liberal, tem V. m. discorrido como um Pedreiro, tem dito belos lindos, ou lindos nadas; já sei donde procede a sua corrupção, não me admira vê-lo Apóstata da verdadeira crença, como funda a sua Doutrina na Leitura desses Livros reprovados, desses Filósofos materialistas, discípulos de Rousseau; compadeço-me da sua desgraça, esse homem enganou a muitos, porém ele foi o mais enganado: mas diga-me, já que leu Rousseau, por que não leu também Bergier, no seu Deísmo refutado por si mesmo, e provas do Cristianismo, se os lêsse, sem dúvida mudava logo de conceito, e talvez, talvez não estaria hoje metido na Seita, sem se poder escapar dela, pelo medo do punhal, ou do veneno. Porém ânimo, e coragem, que ainda há tempo, e para um verdadeiro arrependimento numa falta uma hora; vamos, eu lhe dou mais um toque contra o seu erro, e verdade da nossa Santa Religião, e depois decida-se, e fora medo.
P – Não me queira, Sr. Realista, convencer como fazia o tal Padre Cura; por quanto eu tenho outros conhecimentos mais claros do que tinha meu Pai, e não sendo por princípios fundamentais, e razão palpável, não abandono o meu Sistema por mero capricho, e ilusão; eu leio nos sábios que tem escrito certos argumentos, que me forçam a acredita-los; sem puder contradizê-los, e leio em Mr. Frenet atacar os Apologistas da Religião Cristã; com argumentos tão fortes, a quem se não atrevem a replicar os maiores Teólogos; vejo o Dicionário Filosófico, e o exame importa de Milord Boliorghrok; as cartas sobre os milagres; o Catecismo do homem de bem; o Sermão dos Cinquenta; as questão de Zapata, o jantar do Conde Baulainvilliers, tudo são Monumentos de sabedoria Histórica, a que se não sabe dar resposta, e cujo trabalho que tive em ler, me não deixam viver em ignorância, e sem conhecimento de causa; portanto, eu quero proceder com acerto, e convencido da verdade por meio de argumentos sólidos, não duvido voltar ao seu partido: porém servil nas acções, e servil nos pensamentos, não é decente a um homem que sabendo mais que Musa, se deixa só ir pela Religião de seus pais, e na Fé do carvoeiro, ou credo velho do Padre Cura.
R – Sr. Pedreiro Filósofo, também instruído nesses livros da infernal heresia, quanto melhor fora que o tempo que gastou nesse pernicioso estudo, estivera a cardar lã, ou a meditar nos deveres do verdadeiro cristão; estimo bem que para se formar em Filosofia, estudasse uma boa Lógica; para que por meio dela possa raciocionar com acerto, e sem prevenção, se convença por princípios mais práticos, que teóricos, saberá que contra factos, não há razões que possam convencer. Para se conhecer a verdade da nossa Santa Religião, bata a Santidade dela, e do seu Divino Autor, que nem esse louco Rousseau, nem Freret, nem os mais negaram a sua existência e Missão, e não o desconhecendo, como querem desmentir o seu Evangelho, Lei, ou Constituição? Acaso estes a podiam fazer melhor, nem tão perfeita? O entusiasta Wiclf, nos ensina a conhecer estes declamadores e revolucionários, inimigos de Jesus Cristo; quando ele notando o comportamento de João Hus, o qual descomedidamente falava como há pouco os da facção ímpia dos Demagogos Em toda a ocasião (dizia o Historiador) João Hus havia soltado a língua sem comedimento algum, contra os Papas, contra os Cardeais, contra os Bispos, contra os Frades, e geralmente contra os Eclesiásticos: nem se puderam justificar seguramente, modos tão arrebatados em um cristão, e principalmente em um Sacerdote, que deve dar exemplo de moderação e de obediência aos seus Superiores, então mesmo que eles abusem da sua Autoridade. Isto bastaria a convencer-nos de que as intenções destes homens não podiam ser muito boas, para defesa de uma Religião professada e jurada de manter ilesa. Podia-se aplicar a estes regeneradores, ou Sábios Legisladores das tais finadas Côrtes; a mesma reflexão de outro semelhante Filósofo, menos faccioso, e anarquista do que eles: estes que se esforçam (dizia ele) em desabusar o género humano de toda a casta de prejuízos e fanatismo (isto é da Religião), são talvez bons raciocinadores, mas eu não os poderei reconhecer por bons cidadãos, e bons políticos; pois que eles privam os homens deste grande freio das suas paixões, e põem mais fácil e mais segura a este respeito, a infracção das leis, da equidade, e da sociedade. Meu Doutor iluminado, se amas a verdade, vê ao menos se são dignos de atenção semelhantes Mestres, ou sábios Filósofos.
P – Nada me parece mais contraditório à minha razão, e à desses sábios, do que pensamentos ou ideias de escravizar a liberdade do homem, se Deus a deu como um atributo de beleza, para que nos aviltaremos a obedecer a outro eu; o mesmo Jesus Cristo não obrigou por força a abraçar a sua Lei e o Evangelho, antes disse aos Apóstolos: Ide, e prégai aos Povos esta lei, se crerem nela serão salvos: mas aqui não há força, coacção, e violência, há liberdade; e que me dizeis a isto?
R – Convenho em parte do Texto troncado e suspenso, falta o dizer, e os que não acreditarem serão condenados? Logo tendes no vosso Texto reconhecimento do Santo Evangelho, a sentença da nossa condenação, além do crime de Apostasía, e de perjúrio. Mas tendo a arguir-vos de uma descarada contrariedade, e inconsequência; se amas tanto a liberdade, e os da tua Seita, como pretendem os vossos dignatários, e superiores da ordem, obrigar com juramento atentador, e com a ameaças de morte, a seguir vossos estatutos, e a obedecer às cegas, ainda que seja de perpetuar um crime, um assassino, um fratricida, ou um deicídio; se ela tem mais bens que dar, por que se não préga em público, às claras, e à luz do meio dia, tudo se faz no meio das trevas, em clubs reprovados e clandestinos, acompanhados de emblemas ridículos, aventais, trapos, caveiras, e mitras irrisórias, que não impõem respeito, nem mesmo aos rapazes, que as tem visto; quando pelo contrárias as Augustas Cerimónias da nossa Santa Religião, são de tanto peso e respeito, que obrigou a dizer a um protestante, que assistiu em uma semana Santa em Roma, que bastaria ver o que a Igreja e Pontífice fazia na Quinta Feira maior, para se converter, e abraçar esta Religião, estes mistérios são sempre renovados pela Cristandade há 18 séculos, por uma tradição infalível, prégada na maior publicidade sem contradição, Jesus Cristo a prégava, e mandou assim se continuasse até ao fim dos séculos, atestada com milagres, não desconhecidos dos vossos Mestres; os mesmos Judeus contemporâneos, e inimigos de Jesus Cristo o escreveram nos primeiros séculos da Igreja – Joseph de antiquitatibus - , escreveu que no seu tempo, governando a província da Judeia Pôncio Pilatos, um homem chamado Jesus, e que fazia milagres, e coisas admiráveis fôra condenado à morte, e que nela criam os Cristãos; Tácito, dizia o mesmo; Plínio o moço, dá testemunho destas verdades: S. Justino, que viveu no segundo Século da Igreja Cristã, afirma que o Evangelho de Jesus Cristo, se lia nas públicas Assembleias dos cristãos, e como por tradição antiga; assim meu Doutor, é preciso notar aqui, que a leitura, e cerimónias da Lei, não se faziam às escuras, como nas sinagogas dos Judeus, ou como hoje, nas Lojas Maçónicas, todos os Ministros desta Santa Religião de Jesus Cristo, não se envergonham de a prégar altamente em público, e da a vida pelo Crucificado; os da vossa Seita, pelo contrário, escondem-se, foram clubs secretos, e tem pejo de defender em seus dogmas, e doutrina, apenas mofam em segredo, em particular, ou quando muito na presença daquele que lhe não sabe responder por meio de uma Lógica convincente; temem os Ministros da Polícia, e as pesquisas dos Realistas, sem se exporem ao martírio, como os cristãos o faziam no tempo das perseguições dos tiranos de Roma; olham para a cadeia ou suplício, e mesmo um desterro, com mais tristeza, e susto, do que os Paulos, os Andrés, os Tiagos, e os Estêvãos; vê-de quanto dista um seita em verdade, beleza, e esperança: amigo, mudar de sistema, e é preciso abrir os olhos fascinados pelo erro, e impostura.
(eis a continuação, na III parte)