PASTORAL CONTRA-LIBERAL - D. Patrício da Silva (1832)

D. Patrício I, Cardeal Patriarca de Lisboa
(de 13 de Março de 1826 a 3 de Janeiro de 1840)

Sinopse da Pastoral do Cardeal Patriarca D. Patrício da Silva em 26 de Setembro de 1832

PATRICIUS I CARDINALIS PATRIARCHA LISBONENSIS

A todo o Clero, e a todos os fiéis súbditos do Nosso Patriarcado, saúde etc.

AMADOS filhos: ElRei [D. Miguel] meu Senhor pela Sua incomparável piedade, e zêlo da Santa Religião, não podia deixar de excitar em nossos corações a veemente dor e mágoa, que oprime o Seu, à vista das impiedades praticadas pelos rebeldes [liberais], que entraram na Cidade do Porto, perseguições e sacrilégios em todos os lugares por onde penetraram; chegando ao execrando excesso de profanarem os Templos, de os despojarem, e as venerandas Imagens, desacatando, e ultrajando as Sagradas Partículas, mas é este um dos fins detestáveis, que esses rebeldes se têm proposto em sua Expedição temerária; porque eles, como diz S. Jerónimo, por um ímpio sistema de libertinagem e ateísmo querem fazer a nossa Religião pagã. Em qual é o fim, meus amados filhos, de tantas guerras, que em nossos tempos têm assolado a Europa, senão exterminar da Terra o Cristianismo! Não atribuamos, meus amados filhos, tantas calamidades senão ao desprezo da Religião. É o Senhor, diz um Profeta, que tem pronunciado a sua sentença contra Babilónia, e decretado a sua total destruição "Contra Babylonem mens ejus ut perdut eam, quoniam ultio Domini est, ultio templi sui." E como se poderá esperar, meus amados filhos, que se ponha termo a este flagelo sem que desapareça, e se extermine da Terra esta tenebrosa seita de ímpios conjurados contra o Altar e o Trono? Mas oh! estão vendo, e não vêm; ouvindo, e não ouvem! E que vemos nós nesses facciosos do Porto? Não satisfeitos de terem levantado o estandarte da rebelião contra o Rei legítimo, começaram logo a levantá-lo contra a Majestade de Deus, e os seus Templos. Quanta malignatus est inimicus in sancto. Estenderam as suas mãos sacrílegas até ao Sacrossanto Corpo do Homem Deus!

Mas o nosso David, que o Céu suscitou entre nós no Senhor D. Miguel I, quer que façamos Preces ao Céu para o triunfo da Religião. Ele herdou o Trono por direitos incontestáveis, assim como herdou os exemplos dos Reis seus antepassados para vingar a Igreja. Desterre-se da face da Terra esta raça incrédula, ignorante, blasfema, inimiga implacável do género humano, e que presumindo saber tudo, nada sabe. Para estes fins mandamos que em todas as Igrejas do nosso Patriarcado sejam feitas Preces por três dias. Dada em Lisboa no Palácio da Junqueira aos 18 de Setembro de 1832.

Sob nosso Sinal, e Sêlo das nossas armas P. Cardeal Patriarca.

FIDELISSIMUS Info - Gafe Em Correcção

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MATRIMÓNIO (I)


Capítulo XXXI

Mostram-se os fins porque Deus instituiu o Sacramento do Matrimónio, e o como os mortais nos casamentos faltam a eles

1. Dos sete Sacramentos da Igreja, fontes da graça, e vazos da saúde, a nenhum tratamos (diz o Venerável Palafox) os Cristãos com menos decência, e veneração, que ao do matrimónio, e nenhum profanamos igualmente.

2. O baptismo porta da vida, e da Graça sempre se recebe com pureza; porque nem a singela alma do menino, ainda que manchada pelo pecado original, nem a vontade, e afecto dos Pais embaraça ao  Espírito Divino, que obra com aquele puro elemento misterioso despojo da má pele, que de nossos primeiros Pais herdamos, deixando-a branca, cristalina, formosa, e Santa. O Sacramento da confirmação, segundo falo da alma Cristã, não trás matéria alguma de distração; porque ordinariamente se recebe de idade tão terna, que a inocência convém bem com a Graça. O da penitência, ela mesma se diz: Penitência, dor dos pecados cometidos, emenda para o diante, a meditação precedente, a confissão verbal, faz o juízo reverente, e devoto; não há circunstância, que não obrigue a sentimento, nem memória, que não desperte a dor. A Eucaristia Santíssima, que é o Senhor dos Sacramentos Sacramentado, ainda que nunca com bastante decência recebido; porém sempre é de todo o coração dos Fiéis adorado; não há matéria alguma que não seja de reverência, de confusão, e de assombro em tão profundo mistério, em um pego de misericórdias, em um abismo da Divindade, terminado em tão breves, e naturais acidentes.

3. Ao Sacramento da Ordem (mistério altíssimo da maior dignidade) pelas gradas dos graus da Igreja se sabe com toda a decência, e veneração; e desde a primeira tonsura até o caracter da maior dignidade se vay despojando o homem exterior de si mesmo e o homem interior crescendo em graças, e em bênçãos de Deus.

4. A Extrema-Unção Santíssima, quem a poderá admitir com distraimentos? Quem sem resignação humildíssima, à vista da morte, no último ponto da vida, armando-se para a maior batalha, e signando-se para o mais tremendo juízo?

5. Só o Sacramento do Matrimónio, gloriosíssima porta, quanto à propagação, da Igreja militante, parece que profanam os Fiéis com festas, e muitas loucuras, nada decentes a Cristãos, e pouco permitidos a Gentios. Aqui a desonestidade costuma presidir com a sua desenvoltura, triunfar a soberba com a sua ostentação, alimentar-se a gula com os seus banquetes, adorada, e servida com pompas, e excessos da vaidade: recebido ordinariamente este venerável Sacramento no mais fervoroso da idade, quando o sangue está desassossegado ao humano coração, e dando incentivos ao apetite, à opulência, à altivez, o vício, os jogos, os de divertimentos, os festins, os gastos excessivos, os empenhos da honra, e da vida, e da fazenda; sempre, pela maior parte, precedendo, ou seguindo ao matrimónio: com o que parece que ocasionamos antes o castigo com os excessos, que granjeamos a graça com o Sacramento. E porque tratando desta matéria, parece que só para nela se discorrer me veio por acaso que só para nela se discorrer me veio por acaso às mãos o livro primeiro das revelações de S. Brígida, nele achei; tivera a revelação, que direi, que é admirável para seguir o meu intento.

6. Não entendais que depois da Escritura Sagrada, dos Concílios, e de tudo o que é de Fé, há outra coisa mais aprovada pela Igreja, que as revelações com que ilustrou a alma desta Santa mulher o seu exposto JESUS Cristo; porque se examinaram com grandíssimo cuidado, e reconheceram pelos Pontífices Gregório XI e Urbano VI havendo-as visto primeiro por ordens suas Cardeais doutíssimos, e eminentes Teólogos, que com razões invencíveis as defendeu, e ilustrou; e se aprouveram também pelo Concílio Brasilense Pois a esta santa Alma disse seu Esposo Jesus Cristo, falando dos matrimónios da Lei da Graça, e as palavras que traduzidas em vulgar idioma, dizem assim.

(a continuar)